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Estigmas sociais e usuárias

  • Foto do escritor: Grupo SOS Clinicas
    Grupo SOS Clinicas
  • 22 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

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Apesar de haver estudos que analisam a dependência química com o recorte de gênero, em geral as pesquisas tendem a padronizar o vício sem discutir o que é específico de cada gênero. Com isso, não se reconhece as peculiaridades da dependência em mulheres e o modelo de tratamento acaba não sendo adequado para atender suas necessidades.

A psicóloga Katia Varela, que trabalha no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), estudou as especificidades da dependência química em mulheres em seu doutorado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Para isso, ela acompanhou um grupo psicoterapêutico para mulheres em um Caps AD pelo período de um ano.

As diferenças entre homens e mulheres começam já no consumo das drogas. Em relação ao álcool, as mulheres tendem a beber de forma mais solitária e escondida, ocultando as bebidas nas áreas em que elas têm mais acesso dentro de casa, como a máquina de lavar ou a despensa. Essa discrição no consumo da droga faz com que a família demore para perceber o vício.

O uso do crack tem uma realidade muito específica, já que muitas das usuárias estão em situação de rua e ficam ainda mais vulneráveis do que os homens. “Elas estão mais expostas à violência sexual e chama a atenção o fato de elas receberem dinheiro ou drogas em troca de sexo”, afirma Katia.

Por sua vez, o uso da cocaína é, em geral, motivado pelo parceiro. “Observa-se que a mulher acaba usando para experimentar e desenvolve a dependência”, explica a psicóloga. Contudo, dificilmente ele estará ao lado dela durante o tratamento. “São raros os casos em que há a presença significativa do homem como apoio no tratamento da mulher, ao contrário dos homens, que sempre estão acompanhados”.

Além do abandono pelo parceiro e pelos familiares, as usuárias enfrentaram ou enfrentam situações de violência. De acordo com uma pesquisa feita com usuárias por Beatriz Cesar, autora do artigo “Alcoolismo feminino: um estudo de suas peculiaridades”, 70% das entrevistadas afirmaram ter sofrido violência física/sexual na infância/adolescência e 80% afirmaram ter sofrido violência doméstica por parte do parceiro.

A usuária portanto sofre uma discriminação multiplicada, já que elas são marginalizadas por serem dependentes e por enfrentarem um estigma social. Este estigma é fruto das exigências impostas pela sociedade às mulheres, como o dever de se cumprir os papeis de mãe, esposa e dona de casa. Essa discriminação, que parte não só de outros usuários como também de profissionais da saúde, é um dos fatores que dificultam o tratamento.

A violação de direitos das dependentes ilustra como isso afeta as usuárias de drogas. Muitas mulheres, principalmente aquelas que consomem crack, sofrem a perda compulsória da guarda dos filhos sem ao menos passar por uma avaliação prévia. “Essa violação parte de uma ideia de que essa mulher não será uma boa mãe por ser usuária quando, na verdade, observa-se que muitas vezes o vínculo com essa criança é o que faz ela vir ao tratamento”.

 
 
 

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